Paginas

20 de mai. de 2014

Corpo humano na arte – Vênus de Willendorf

O corpo humano obcecou artistas de todo o mundo e em todas as épocas. A variedade de sua representação é sem conta. Entretanto, as imagens que mais nos chamam a atenção têm algo em comum: raramente se parecem com um ser humano real.


15/maio/2014

[História da Arte]

A representação do corpo humano Parte 1 – A Vênus de Willendorf

A primeira representação artística do corpo humano

A primeira imagem do corpo humano que se conhece foi encontrada às margens do rio Danúbio, no Vale Wachau [nordeste da Áustria], na vila de Willendorf. 
Vale Wachau [nordeste da Áustria], na vila de Willendorf
Seus criadores eram nômades, viviam em pequenos grupos, sustentados pela coleta e pela caça. Encontrar vestígios desse tipo de civilização é muito difícil, mas foi uma tarefa a que se propuseram três arqueólogos austríacos.
No dia da grande descoberta, nenhum dos três pesquisadores se encontrava em campo. Ao contrário, experimentavam o vinho numa taverna da vila. Motivo pelo qual nenhum deles recebeu o crédito pela descoberta.
Era 7 de agosto de 1908. Um dos trabalhadores retirou da lama a figura de uma mulher. Era uma pequena estátua de 10 cm, talhada em pedra calcárea e tinha 25 mil anos de idade. Deram-lhe o nome de Vênus de Willendorf [vênus era o termo genérico para o nu feminino no passado].

Vênus de Willendorf

A estatueta é peça essencial na História da Arte e é considerada a mais importante obra do Museu de História Natural de Viena, possuidor de vasta coleção de artefatos de todo o mundo. 
Sala especial no Museu de Viena para a Vênus Willendorf
Além de seu valor financeiro e histórico, a pequena Vênus tem um valor inestimável: é a primeira pista do motivo pelo qual nossas imagens do corpo humano são tão irreais. 
Representação irreal do corpo humano
A pequena Vênus é completamente irreal. Seios, estômago, quadris, coxas e órgão sexual, todos enormes, desproporcionais. Por outro lado, seus braços quase não existem e seu rosto não aparece. 
Contudo, percebe-se que ela não é uma criação casual. Vê-se que foi cuidadosamente esculpida. Algum motivo levou aqueles homens, caçadores e coletores, a criá-la. O surpreendente, é que o estilo foi encontrado em várias partes do mundo, desde as estepes russas até o sudeste da Europa. Não são idênticas, mas os traços são os mesmos, os mesmos exageros e subtrações, como na pequena Vênus de Willendorf. 
The Kostienki – Rússia
The Donli Vestonice – República Tcheca

The Venus de les Pugue – França

As perguntas 

Responder a determinadas perguntas sobre a Vênus de Willendorf, e suas semelhantes, é essencial para compreendermos nossa história como seres humanos, como e por que construímos nossa própria imagem e por que a construímos de forma irreal. 
A possível explicação não foi dada por arqueólogos ou por um especialista em arte, mas por um neurocientista, o prof. V. S. Ramachandran, que se fez as mesmas perguntas que os cientistas da área se fizeram. O professor Ramachandran se perguntou se havia algo no cérebro dos humanos antigos que explicasse porque as Vênus teriam formas tão distantes do real.

A possível resposta

Por incrível que possa parecer, o prof. Ramachandran se baseou numa pesquisa feita há 50 anos, em Oxford, com gaivotas. É isso, nada errado... Pesquisa com gai-vo-tas, tipo a imagem ao lado. 
O que ocorre é que os filhotes de gaivota, logo que nascem, batem no bico da mãe, que apresenta uma cor avermelhada, pedindo comida, no que são atendidos. 
Na pesquisa realizada pela Oxford, aos filhotes foi apresentada uma vareta com uma fita vermelha, eles a bicaram como se fosse o bico da mãe. O mesmo foi feito com uma vareta com três fitas vermelhas, os filhotes bicaram as fitas com mais entusiasmo. Mostradas as duas varetas ao mesmo tempo, os filhotes apresentaram preferência visível pela vareta com as três fitas. 
Mas, afinal, qual a relação da pesquisa com os filhotes de gaivota e a Vênus de Willendorf?
Na verdade, o que se provou é que, no cérebro dos filhotes, assim como no cérebro humano, o que interessa é o objeto do desejo primário. No caso das gaivotas, as fitas vermelhas. No caso dos seres humanos do vale de Wachau, vila de Willendorf, os seios, estômago [ou barriga], quadris, coxas e órgão sexual. Os caçadores e coletores de Willendorf, que viviam num rude e agressivo clima glacial, exageraram o que mais importava, as partes que eram os maiores áreas de seus desejo nas fêmeas.

Ficam as perguntas:

Esse instinto primário dos seres humanos explica, realmente, por que criamos imagens irreais de nosso corpo? Tendo essa teoria como verdade, a motivação que impeliu os homens que vieram posteriormente era a mesma? Evoluímos nesse sentido? Ou continuamos a representar a pequena Willendorf até os dias de hoje?
Posts futuros, mas não sequenciais, responderão essas e outras perguntas. Acompanhem!

Fonte: BBC


ABBraços fraternos

2 comentários:

  1. Olá, conheci o seu blog na semana passada e lamento que você tenha parado de postar em 2014. Mas vou comentar sobre a Vênus de Willendorf e suas similares porque elas também me intrigam.
    É fato que, na época, os escultores destas Vênus não dispunham de uma técnica para fazer braços salientes, e nem estes teriam sobrevivido intactos por tantos séculos. Mas eu gostaria de fazer uma ponte destas esculturas com a de outra Vênus bem mais recente e conhecida: A Vênus de Milo, cujos braços, embora originalmente esculpidos, não sobreviveram junto ao corpo.
    No entanto, acho que ela fascina tanto justamente pela falta dos braços, porque satisfaz na mente masculina atual aquela mesma ideia que o homem primitivo tinha da mulher (e a crítica de arte é essencialmente feita por homens).
    Eu não acredito que a escultura de um cidadão sem braços fosse tão icônica quanto a desta senhorita de Milo. Nas estatuárias de propagando governamental (do nazismo e do comunismo inclusive) sempre realçam os braços dos homens, e Rodin também os fazia exagerados e desproporcionais. Mas eu só conheço duas obras que se apoiem inteiramente no uso braço da mulher: aquela do Delacroix (A liberdade guiando o povo) e a Estátua da Liberdade.

    Em 15/07/2011 eu publiquei no meu blog um poema meu sobre este assunto:

    Vênus de Milo

    Belíssima Mulher de Willendorf
    em contornos quase atuais. Embora nos revele
    os adolescentes seios e o rígido ventre
    (ainda ilesos da maternidade), esconde
    a carne íntima e seus pelos
    sob a displicente toga,
    que se derramando da cintura pelas pernas
    encobre até a pele das coxas
    fortes e apetitosas.

    Mais que estátua de modelo esculpida,
    o mármore capta, sob a pose estática,
    a argúcia nata de uma fêmea adulta,
    que no casto ar de fortuita ingenuidade
    edifica e camufla seu feminino pedestal.

    No Louvre,
    lembra um Monte Everest
    reinando branca sobre cabeças e flashes
    do público;
    tão perfeita e completa
    que a mutilação do corpo até parece
    intencional.

    Tanto assim é que a chuva de focos,
    olhares e dedos aponta encantada ao torso
    de braços grosseiramente amputados
    e lá detém-se enfeitiçada,
    desprezando todo o resto;
    desdenha até do rosto
    de nariz clássico e delicados lábios
    que, emoldurados em cabelos presos
    por um coque e uma tiara (que ninguém repara),
    dão o mítico traço grego
    às linhas altivas da face.

    Por certo que o fascínio à sua anatomia
    aleijada
    não resulta de piedade dos turistas.
    Talvez derive do espanto da sua beleza
    ser tanta que apequena a penosa anomalia,

    ou antes seja mesmo a ausência dos braços
    – defensivos e supérfluos no desfrute –
    que justo a encaixa num ícone masculino
    de mulher ideal.


    Grande abraço,

    João Renato.

    ResponderExcluir
  2. such an interesting information for me. and i hope that it will be useful for other people.http://proofreading-services.org/

    ResponderExcluir

Obrigada por sua visita e participação.